O Rio de Janeiro, sendo sede do governo federal, nunca fez parte das preocupações dos moradores da Fazenda Santa Luzia. Mas no ano de 1939 a capital começou a entrar na prosa daquela comunidade tão longe da imensidão do mar. Porque água, para eles, bastava a do ribeirãozinho com nome do santo, que tocava a roda d'água e era responsável pelo tum...tum monótono do monjolo.
Até o Rio Sapucaí, preso entre as margens, lhes parecia grande. Assim como a lagoa, que ficava a algumas braças da fazenda. Funda, suas águas escuras guardavam mistérios e serviam para nomear o bairro onde ficava a Santa Luzia. Servia também para atormentar as mães zelosas que escorraçavam de perto dela, a poder de vara de marmelo, a molecada arteira.
Mas, como se ia dizendo, o governo federal interferiu diretamente na vida da fazenda quando, com uma canetada, Getúlio Vargas, assinou a lei que proibia a venda de bebida em barril. O presidente foi duro e categórico: toda bebida deveria ser engarrafada e rotulada. Foi um Deus nos acuda. A Fazenda Santa Luzia entrou em polvorosa para inventar e comprar engenhocas para obedecer a ordem do presidente.
Como proteger as garrafas para que elas resistissem aos solavancos da marcha da tropa? Como tudo na fazenda, a solução veio da terra. Um engenhoso tear logo começou a tecer "capas" de palha de arroz ou taboa para envolver as garrafas, que eram cuidadosamente arrumadas nas bruacas, espécie de baú feito de couro, em que se acomodavam 48 delas. Para quem nunca teve medo de desafios o engarrafamento exigido pelo velho caudilho, se no começo tirou o sono de João, em pouco tempo virou rotina.