Comecinho do século. 1906. João Pereira de Faria chega às terras de Seu Beca, fazendeiro próspero e respeitado em toda a região do Vale do Sapucaí, ao sul das Minas Gerais. Vindo da cidade de Brasópolis trazia com ele, além da mulher, Edwiges, e dos cinco filhos, um mundo de sonhos. João chegava para comprar terra e sobre ela plantar uma fazenda como nunca se viu por ali. Coragem e determinação ele tinha de sobra. E entre sonhar e realizar o sonho foi um pulo. Nesse mesmo ano a casa grande tomou forma. O ribeirão Santo Antônio emprestou parte de suas águas que passaram a tocar o monjolo e o moinho. As trilhas longas e difíceis exigiam que a comida estivesse sempre por perto. Estrada não havia ali naqueles tempos. Então, era preciso, o quanto antes, surtir a despensa para matar a fome da família e da colonada. Assim, João plantou café, milho, arroz e feijão. Porcos lerdos de tanta gordura enchiam os chiqueiros e o gado aumentou na pastagem farta. A despensa cheia atendia a precisão dos colonos com fartura de comida: arroz, feijão, rapadura, açúcar preto, farinha de milho e mandioca, café e sal.
Nas prateleiras enfileiravam-se panelas de ferro, talheres, pratos, canecas esmaltadas, chapéus, tecido, garrafões de vinho e cachaça. Quem tinha dinheiro enchia os jacás pendurados no lombo dos burros, quem não tinha, também. O tecido do vestido da menina podia valer dois franguinhos. Ninguém ficava sem o arroz ou a farinha, já que uns poucos quilos de milho pagava tudo. O que sobrava as fazendas vizinhas compravam ou ia para as vendinhas na cidade. E a vida corria movimentada e próspera na Fazenda Santa Luzia, que estendia suas terras pelos municípios de São José do Paraíso e Conceição dos Ouros.